"Rio, caminho que anda,
o mar te espera,
não corras assim!

(Vinícius de Moraes)

APRESENTAÇÃO


Há uma soberba potencialidade que sai de um estágio sonolento. Trata-se, evidentemente, de uma contingência da sociedade moderna. A maior Nação do mapa latino-americano indica plena conscientização desse quadro histórico. O crescimento dos índices demográficos, incontido e inexorável, leva os condutores da família continental à formulação de esquemas capazes de movimentar o parque nacional de recursos naturais, para que daí possa resultar o alargamento do mercado de trabalho. A tecnologia, a grande dádiva do século, é a força motriz que sacode o ócio da geografia, trazendo a prosperidade ao Homem.

Encetada, está agora, a peregrinação a partir do mar até as fascinantes áreas internas da Nação, ainda inebriadas por ecossistemas, compondo um raro complexo na conjuntura mundial.

Entretanto, sem o disciplinamento das tecnologias voltadas ao aproveitamento múltiplo da água, pouco será conseguido nesta tarefa de domar a imensidão nativa. Há uma empolgante rede de rios que lava o território brasileiro, e agrupando-se gradualmente no declive rugem e empurram o mar numa confissão de grandeza selvagem.

A bacia hidrográfica, exposta em proporções que fascinam, é um alvo para a expectativa brasileira. Sustentar o desenvolvimento do aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos equivale à afirmação de uma grande tese de Estado. A incorporação do rio ao complexo sócio-econômico nacional é recomendada por circunstâncias imperiosas, ditadas pela proteção das encostas, do controle das cheias, da produtividade da terra, da produção energética, da disciplina das águas servidas, do abastecimento dos centros urbanos, fazendo crescer o teor da dinâmica no quadro da racional exploração dos recursos naturais. Embarcações, descendo ou subindo os rios, são agentes agressivos do desenvolvimento. Estradas que a Criação legou ao Homem, o seu uso efetivo é inadiável. Não podem coexistir zonas estáticas com os mecanismos que se aglutinam em outras áreas, ensejando a ampliação inaceitável das distorções sociológicas econômicas.

A fatalidade histórica que colocou o início do desenvolvimento econômico nacional naquele mesmo princípio do século passado em que se inauguraram, no mundo, as estradas de ferro, desde logo consideradas, em todos os países, como panacéia dos transportes, polarizou para esse sistema revolucionário de transporte os minguados recursos do país, único, talvez, a passar sem transições do caminho rudimentar de tropeiros para as mais ousadas realizações ferroviárias, vencendo, de início, os contrafortes da Serra do Mar, sem haver percorrido os estágios intermediários em que se formaram, em outros países, as bases de um sistema intermodal de transportes.

Relegadas ao abandono, as vias fluviais, que todos os países se aplicam com diligência, cada vez mais, como indispensáveis à movimentação de pessoas com mais segurança e conforto, de grandes massas de matérias primas, de granéis sólidos e líquidos, tendo em vista o fator econômico do transporte, empenhou-se o Brasil, com o mesmo exclusivismo, a partir do segundo quartel deste tumultuado Século, na solução, sem dúvida mais simples e imediata, dos seus problemas viários, através do desenvolvimento indiscriminado das estradas da rodagem, incentivando o emprego desse meio de transporte à distância que seriam considerados inadequadas em qualquer nação de economia organizada.

Não obstante a evidência dos fatos, por muito tempo ainda, permanecerá no consenso público que só as futuras gerações poderão cogitar do planejamento integrado dos meios de transportes, com base no disciplinamento do múltiplo uso da água, como se os resultados obtidos em várias regiões do mundo fossem suficientes para convencer o efeito-demonstração.


Engº COLOMBO MACHADO SALLES

(No link "Canal" da home page - "As águas das montanhas de Minas Gerais e Campos do Jordão-SP poderão resolver o problema da seca no sul").

 

 

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